Olá!
Essa é uma atividade flexível que
pode ser utilizada nas turmas de 6º e 7º ano. O gênero textual em destaque é:
“Memórias Literárias”, extraído do acervo da “Olimpíada de Língua Portuguesa.
Trabalho com os gêneros desde 2008, e, nessa quarentena estou revendo e
atualizando minhas atividades. Cada tópico tem explicações e sugestões de como
trabalhar ou mesmo adaptar os itens recomendados pela BNCC, segundo minha
experiência e nova revisão. Bom, é uma pequena contribuição, espero ter ajudado
aos meus colegas com essa atividade!
Componente: Língua Portuguesa
Ano/ Faixa: 6º, 7º
Campo de atuação: Campo
jornalístico/midiático
Prática de Linguagem: Leitura/ Análise
linguística/semiótica
Objeto de conhecimento: Fono-ortografia, morfossintaxe, Léxico/morfologia
Habilidades:
(EF67LP03) Comparar informações sobre um mesmo fato divulgadas em
diferentes veículos e mídias, analisando e avaliando a confiabilidade.
(EF67LP04) Distinguir, em
segmentos descontínuos de textos, fato da opinião enunciada em relação a esse
mesmo fato.
Efeitos de sentido
(EF67LP32) Escrever palavras com correção ortográfica, obedecendo as
convenções da língua escrita.
(EF67LP36) Utilizar, ao produzir texto, recursos de coesão referencial
(léxica e pronominal) e sequencial e outros recursos expressivos adequados ao
gênero textual.
Texto
extraído do acervo da Olimpíada de Língua Portuguesa: “Carreiro de memórias.”
Autora: Beatriz
Aparecida Melo Garcia.
O tempo passou sem que eu
percebesse. Lá se foram 81 anos, todos vividos neste casarão centenário, cheio
de histórias, fincado nas terras de Minas Gerais, na pequena comunidade dos
Antunes, zona rural de Santa Bárbara do Tugúrio.
Ainda há pouco, sentado
na varanda, com o pito de palha no canto da boca, matutando, avistei meu carro
de boi, carcomido pelo tempo, abandonado debaixo da gameleira. Aquela imagem me
fez voltar à infância e carrear antigas lembranças. Época em que a cana de
açúcar, o alambique, a cachaça e a bagaceira movimentavam esse lugar. Tudo orquestrado
pelo canto do carro de boi. Meu avô, tenente Antunes, forte como aroeira e doce
como jabuticaba estava no comando.
Eu tinha sete anos quando
ele me ordenou que eu o aguardasse no escritório. Temi que meu avô houvesse
descoberto que eu armara um alçapão para pegar canarinho. Ele dizia: “Quem
prende passarinho não entende nada de beleza, tem aleijão na alma”. Com minhas asas
encolhidinhas, rumei para o escritório. Não tardou, ele chegou e falou de
supetão: “A partir de amanhã você será o carreiro da nossa comunidade, condutor
dos bois que transportam cana para o alambique da fazenda.”
Naquela época, carreiro
era a profissão mais importante do lugar. Eu não tinha noção disso, era apenas
um menino! Sabia só do alívio que senti em não ser pego em minha travessura.
Passei a sair de madrugada. Levava no embornal (bolsa para transportar
alimentos) a marmita, a rapadura e o coité (moringa feita de cabaça) com água.
Comigo iam dois homens bons: Doraci e Benondio. Quanto mais pesada era a carga,
mais o carro cantarolava. Os bois obedeciam ao meu comando. Não era preciso
usar a força.
Á tardezinha voltávamos
para casa. De longe eu sentia o olhar orgulhoso de meus pais e de meu avô me
abençoando. Minha mãe aquecia uma caçarola com água e colocava na bacia para eu
me banhar. Depois nos servia o jantar, preparadas em panelas de ferro, no velho
e bom fogão a lenha. Daí a pouco, todo o pessoal do lugar se reunia no casarão
para estudar. Meu avô contratara um professor e fizera do maior salão dessa
casa a primeira sala de aula de nossa comunidade. Todos, sem distinção, foram
convidados a estudar aqui.
O domingo era dia santo,
de reza e descanso. Nós, além de rezar, jogávamos bola. Eram dois times:
Arranca toco e Pé rachado. Soltávamos pipa, tomávamos banho no ribeirão e
ouvíamos as histórias do meu avô. O mais curioso é que hoje, com toda a
tecnologia e brinquedos eletrônicos, as crianças ainda insistem em trabalhar
assim. Só mudaram os figurantes. Os meninos são outros. O contador de histórias
também. Sou uma criança de ontem que sopra o passado nos ouvidos das crianças
de hoje e que sente por não poder contar com o avô, menino de anteontem, uma
história que se inicia agora.
Pois eu não me esqueço do
domingo em que o acompanhei até o porão. Ele me contou que na época de seu pai,
meu bisavô Joaquim Antunes, ali era uma senzala e que foram os escravos, sem
receber um vintém, que ergueram a casa grande. Trouxeram, de longe nos braços,
pedras e madeiras enormes. Muitos morreram de exaustão. Falou-me da vergonha
que sentia e da nossa dívida para com o povo negro. Aquilo caiu no meu peito
como uma oração de domingo, e o respeito aos afrodescendentes se enraizou em
mim.
É por isso que eu queria
comungar com ele uma história que começa agora. Sei que sua alma, iria sorrir
ao ouvir que hoje os negros têm lugar reservado em universidades e que nas
escolas, inclusive nas do nosso município, as crianças estudam a cultura
africana. Será que começamos a saldar nossa dívida? Espero que sim.
E, quando a vida ruma
para o amanhã, da minha janela vejo o carro de boi cabisbaixo. Cabisbaixo
também estou. Caímos em desuso. Já não podemos ver o carro de boi passar
cantando, conduzido pelo menino que se divertia em carrear. Nossa poesia se
perdeu no tempo. Resta a ele trazer-me as recordações daquela época. Resta em
mim carreá-las.
(Texto baseado na entrevista feita com o senhor Vicente Antunes Garcia)
Parte
1 – Interpretação textual.
1 – O termo “carreiro”,
que faz parte do título desse texto, refere-se a:
A ( ) Vaqueiros do sertão do Norte e Nordeste
brasileiro;
B ( ) Motoristas de engenhocas criadas por
colonos do estado de Minas Gerais;
C (X) Encarregados que conduzem carros de boi, cargo reconhecido
nas antigas fazendas do Sudeste do Brasil.
D ( ) Empregados de confiança dos donos de
fazenda que negociavam cana de açúcar nos comércios da pequena cidade de Santa
Bárbara do Tugúrio.
2 – Entre as alternativas
abaixo, SOMENTE DUAS estão de acordo
com o texto que você leu. Marque-as:
A (X ) “ Naquela época, carreiro era a profissão mais
importante do lugar...”
B ( ) “ Além dos escravos negros, a fazenda
ainda contava com imigrantes vindos de várias partes do Brasil, que eram
acolhidos sem distinção.”
C ( ) “ Nem sempre podíamos jogar bola aos
domingos, pois era uma tradição da nossa família participarmos das atividades
da igreja.”
D (X) “ minha mãe aquecia uma caçarola com água e
colocava na bacia para eu me banhar.”
3 – Segundo o texto, o
carro de boi representa para o personagem:
A (X) Uma lembrança dos seus tempos de menino, quando se
tornou “carreiro”.
B ( ) O instrumento de trabalho do seu avô
Doraci e seu tio Benondio;
C ( ) Algo
triste e saudoso, porque lembra o abandono desse tipo de transporte nos dias
atuais;
D ( ) Uma recordação familiar que levava os
produtos da comunidade de Antunes para Santa Bárbara do Tugúrio.
4 – Marque (V) para as
alternativas verdadeiras e (F) para as falsas:
(V) O bisavô do protagonista lembra com tristeza
que os escravos trabalharam sem ganhar “um vintém” para construir a casa
grande;
(V)
Conduzido pelo avô até o escritório da fazenda, o menino recebeu de supetão a
notícia de que seria o novo carreiro;
(F)
Os nomes dos times do vilarejo eram: Pé de sola e Bota de chumbo;
(F)
A responsabilidade como carreiro também se estendia à prestação de contas dos
galões de leite vendidos na cidade;
(F)
O menino carreiro tinha a companhia de
dois bons homens: Anastácio e Francisco, que o acompanhavam na viagem.
5 – Na frase: “E,
enquanto a vida ruma para o amanhã, da minha janela vejo o carro de boi cabisbaixo.
Cabisbaixo também estou.” A palavra grifada significa:
( ) euforia ( X ) tristeza ( )
saudade ( ) vergonha ( )
respeito
6 – Qual seria a sua definição da expressão: “Caímos
em desuso”?
Aqui argumente
sobre antigos costumes que já não são usados hoje em dia.
Parte
2 – Ortografia e Gramática “com texto”:
1-
Marque com (X) a alternativas que
apresentam o palavras com termos ortográficos INCORRETOS e coloque a forma correta ao lado:
(
)
“ É por isso que eu queria comungar com ele uma história que começa agora.”
(X) Nós, além de rezar, jogávamos bola. Eram dois
times: Aranca toco e Pé raxado.”
(X) “O respeito aos afro – descendentes se enraizou em
mim.”
(X) “Muitos morreram de esaustão.
(X) “...menino de antiontem, uma história que se inicia
agora.”
(
)
“ Resta a ele trazer-me recordações daquela época.”
2
– Grife nos trechos abaixo SOMENTE os verbos. Em seguida responda aos
questionamentos sobre alguns deles: (Nesta questão,
explique rapidamente as conjugações e os modos verbais)
A.
“Sou uma criança de ontem que sopra o
passado nos ouvidos das crianças de hoje e que sente por não poder contar com o
avô, menino de anteontem, uma história que se inicia agora.”
-
O termo sente no contexto do
parágrafo tem origem no verbo sentir da 3ª conjugação.
Já
na frase: “O diretor pede que você se
sente e aguarde.”, o sentido mudou completamente! Ele está ligado ao verbo sentar da 1ª
conjugação.
B.
Já não podemos ver o carro de boi passar
cantando, conduzido pelo menino que se divertia em carrear.
O
verbo cantando está no Gerúndio e o
verbo carrear no Particípio.
C
- O termo “carrear” expressa uma forma
particular e poética usada no texto. Utilize dessa estratégia para “poetizar” e tornar os
substantivos, verbos no modo Infinitivo.
(Aqui fale um pouco da importância da escrita
poética em alguns gêneros textuais, como o Poema, a própria Memória Literária e
Crônicas)
Exemplo:
Maresia: maresiar.
Passarinho:
Passarinhar/ Orquestra: Orquestrar
/ Domingo: Domingar.
- Com suas “palavras poéticas”, escreva um
parágrafo relacionado com o tema memórias, em 1ª pessoa:
Os alunos irão criar um parágrafo envolvendo as palavras “criadas”
Parte 3: Análise e
produção textual: mãos e mente à obra!
1- “Ele dizia: “Quem prende passarinho não
entende nada de beleza, tem aleijão na alma”. Com minhas asas encolhidinhas,
rumei para o escritório.” Interprete com
suas palavras essa metáfora utilizada pelo protagonista do texto:
Direcione o aluno para a sensibilidade com
os animais, e como o protagonista estava receoso em encarar o avô, por causa de
uma travessura descrita no texto.
2 - Aqui, mais uma vez nos deparamos com uma
comparação: “Meu avô, tenente Antunes, forte
como aroeira e doce como jabuticaba
estava no comando.”
Utilize dois sinônimos para as palavras:
“forte” e “doce” e crie sua própria frase poética comparativa:
Incentive-os a
usar o dicionário para procurarem sinônimos.
3 - O texto “Carreiro de memórias” nos remete a um
Brasil predominantemente rural, mais precisamente no interior de Minas Gerais. (Se possível, pesquise
no Google maps o município de Santa Bárbara do Tugúrio. Lá estão alguns pontos
turísticos citados no texto, além de incrementar sua aula com elementos
sociais, econômicos e históricos. No decorrer da atividade, volte-se também
para uma pesquisa da sua cidade, para enriquecer com subsídios a redação
proposta no final.). Segundo as memórias do narrador: “Naquela época,
carreiro era a profissão mais importante do lugar. Eu não tinha noção disso,
era apenas um menino!” Ao assumir o “cargo” designado por seu avô, o menino
ficou surpreso tanto pela responsabilidade quanto a tradição de que somente
adultos poderiam ser carreiros. (Nesse ponto, envolva o
ECA e também inclua que
responsabilidades e compromissos devem ser exercitados desde cedo. Construa a
respostas abaixo a partir dessas discussões.)
- Para você, nos dias atuais é legalmente
possível uma criança exercer um cargo, um emprego? Por que?
__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
- Quais as
atividades que você considera adequadas às crianças e adolescentes, quanto a
exercer uma determinada responsabilidade?
________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
4 – Releia com atenção esses dois parágrafos:
“Pois eu não me esqueço do domingo em que o
acompanhei até o porão. Ele me contou que na época de seu pai, meu bisavô
Joaquim Antunes, ali era uma senzala e que foram os escravos, sem receber um
vintém, que ergueram a casa grande. Trouxeram, de longe nos braços, pedras e
madeiras enormes. Muitos morreram de exaustão. Falou-me da vergonha que sentia
e da nossa dívida para com o povo negro. Aquilo caiu no meu peito como uma
oração de domingo, e o respeito aos afrodescendentes se enraizou em mim.
É por isso que eu queria
comungar com ele uma história que começa agora. Sei que sua alma, iria sorrir
ao ouvir que hoje os negros têm lugar reservado em universidades e que nas
escolas, inclusive nas do nosso município, as crianças estudam a cultura
africana. Será que começamos a saldar nossa dívida? Espero que sim.”
- Você deve ter assistido nos noticiários a
repercussão do termo: “Vidas negras importam.” Ele está ligado a acontecimentos com pessoas
negras, vítimas de violência, e que causaram manifestações em todo o mundo,
inclusive no Brasil. Com base em suas informações e nos trechos extraídos do
texto, faça um pequeno resumo crítico da trajetória dos negros desde o período
da escravidão até os dias atuais.
(Como
você deve saber, aqui tem muito pano pra manga! Explore situações recente como
a que aconteceu com João Pedro, em uma favela do Rio de Janeiro, do menino
Miguel e Rayshard Brooks nos Estados
unidos. Ilustre com ditos populares preconceituosos: “a coisa ficou preta”, “Não
sou suas negas” , “ bandido bom é bandido morto.” Discuta sobre os programas de cota para
quilombolas e demais direitos garantidos aos afrodescendentes.)
5 - Como todo texto, um
texto de Memórias Literárias tem a introdução, o desenvolvimento e a conclusão.
Ele se desenvolve a partir de um tema que faz um “passeio cronológico”, ou
seja, uma viagem em épocas diferentes (passado e presente, em geral). Leia os
trechos, que transbordam emoções e pensamentos, retirados do texto “Carreiro de
memórias.”:
“Ainda há pouco, sentado
na varanda, com o pito de palha no canto da boca, matutando, avistei meu carro
de boi, carcomido pelo tempo, abandonado debaixo da gameleira. Aquela imagem me
fez voltar à infância e carrear antigas lembranças...”
“E, quando a vida ruma
para o amanhã, da minha janela vejo o carro de boi cabisbaixo. Cabisbaixo
também estou. Caímos em desuso. Já não podemos ver o carro de boi passar
cantando, conduzido pelo menino que se divertia em carrear. Nossa poesia se
perdeu no tempo. Resta a ele trazer-me as recordações daquela época. Resta em
mim carreá-las.”
- Vamos usar um cenário atual: a sua rotina e
da sua família antes e depois da Pandemia. A partir de informações verídicas e
de sua imaginação e sensibilidade, desenvolva um texto de memórias com no mínimo
15 e no máximo 20 linhas.
Em sua estrutura, não esqueça: título,
Introdução (um parágrafo de no mínimo 3 linhas), Desenvolvimento (três
parágrafos de no mínimo 3 linhas cada) e Conclusão (um parágrafo de no mínimo
três linhas).
Dicas
de produção:
- Identifique lugares, objetos, episódios em
reuniões com amigos e familiares;
- Mantenha o foco em um desses itens acima para iniciar e concluir sua redação;
- No desenvolvimento, utilize os outros dados
em cada um dos parágrafos.
- Coloque seu nome abaixo
do título;
- Não esqueça que o gênero “Memória” é uma
viagem! Busque boas e marcantes lembranças da sua infância!
Agora, mãos e mentes à
obra!
______________________________________
__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Espero ter ajudado! Boa sorte!
Tereza.
Nenhum comentário:
Postar um comentário